Capitulo 1

 

A Lodge of Promulgation e os Primeiros Esforços de Sistematização das Landmarken (1809–1810)

No início do século XIX, em meio às tentativas de reconciliação entre as duas principais correntes da maçonaria inglesa — os Ancients e os Moderns —, surgiu um esforço notável de identificação e sistematização dos princípios fundamentais que definiam a prática maçônica regular. Esse processo foi catalisado pela criação da Lodge of Promulgation, em 1809, sob os auspícios da Grande Loja dos Modernos. A referida loja teve como objetivo preparar o caminho para a futura união com os Ancients, que culminaria, em 1813, com a formação da United Grand Lodge of England (UGLE). Para tanto, ela se propôs a identificar e reafirmar elementos essenciais da maçonaria que seriam aceitos como universais ou "landmarks".

Conforme relatado por Charles Clyde Hunt em The Landmarks of Freemasonry (1943, pp. 26-30), a Lodge of Promulgation formulou quatro landmarken fundamentais, que foram entendidos como requisitos indispensáveis para garantir a regularidade de uma loja e preservar a essência da tradição maçônica:

1. A forma da Loja (The form of the Lodge) – Este princípio estabelecia a configuração simbólica e arquitetônica da loja maçônica, mantendo-se fiel à tradição dos construtores operativos. A forma retangular, com orientação leste-oeste, evocava o templo de Salomão e estava carregada de significados esotéricos e cosmológicos que remontavam à antiguidade. Esse layout era considerado um marco inegociável da identidade maçônica.

2. Seus Oficiais e suas Funções (Its Officers and their Duties) – A presença de oficiais definidos com funções específicas, tais como o Venerável Mestre, os Vigilantes, o Tesoureiro e o Secretário, foi destacada como elemento essencial da estrutura maçônica. A distribuição dessas funções refletia tanto a hierarquia ritual quanto a pedagogia simbólica da maçonaria, enfatizando a ordem, a disciplina e a transmissão do conhecimento iniciático.

3. As Cerimônias Rituais (The Ritualistic Ceremonies) – As cerimônias de iniciação, elevação e exaltação foram apontadas como práticas inalteráveis. Embora houvesse variações de ritual entre Ancients e Moderns, a Lodge of Promulgation buscou identificar os elementos comuns, que representavam a espinha dorsal da maçonaria simbólica. Estes incluíam os gestos, palavras, ensinamentos morais e instruções simbólicas que caracterizam os graus maçônicos.

4. A Cerimônia de Instalação (The Installation Ceremony) – Particular ênfase foi dada à cerimônia de instalação do Venerável Mestre, considerada uma prática antiga e fundamental. Esta cerimônia não apenas conferia autoridade ao dirigente da loja, mas também o inseria em uma cadeia de transmissão tradicional e regular. A sua preservação era vista como essencial para assegurar a legitimidade das lojas e da própria obediência.

Esse conjunto de quatro landmarken representou uma tentativa precoce — e notavelmente concisa — de sistematizar os pilares da tradição maçônica a partir de critérios que fossem reconhecíveis e aceitos por diferentes ramos da fraternidade. Ainda que outras listagens mais amplas viessem a surgir ao longo do século XIX — como os 25 landmarks de Albert Mackey em 1858 ou as codificações elaboradas por obediências estaduais nos Estados Unidos —, o trabalho da Lodge of Promulgation serviu como referência fundacional para o processo de unificação da maçonaria inglesa e permanece como um exemplo de esforço ecumênico dentro da diversidade maçônica.

Além disso, o valor histórico desses quatro landmarken reside também no seu caráter consensual: eles foram pensados não como doutrinas fechadas, mas como pontos de convergência entre tradições divergentes, funcionando como uma base mínima sobre a qual se poderia construir a tão almejada unidade na diversidade da maçonaria.

Assim, ao examinarmos os primeiros passos na formulação das Landmarken, é impossível ignorar a importância da Lodge of Promulgation como um dos marcos decisivos da modernidade maçônica, cuja influência ecoaria nas décadas seguintes, tanto nas definições teóricas como nas práticas institucionais das diversas obediências ao redor do mundo.