Capitulo 5

 

Os Nove Landmarken atribuídos a Joseph D. Evans: Tradição Ritualística e Autoridade Maçônica (c. 1854–1900?)

A tradição maçônica moderna, especialmente a anglo-americana, viu no século XIX uma crescente necessidade de sistematizar e codificar os fundamentos da Ordem por meio dos chamados Landmarks — princípios considerados essenciais, imutáveis e universais. Nesse contexto, além da célebre contribuição de Albert Mackey (1858), surgem outras tentativas menos difundidas, porém igualmente significativas, como a atribuída a Joseph D. Evans, Past Grand Master da Grande Loja de Nova York, cuja lista de nove Landmarken foi mais tarde citada por Lennhoff e Posner (1932) e aprovada por J. F. Newton.

A datação precisa dessa formulação é controversa. Embora alguns autores mencionem o ano de 1854 como possível referência, evidências apontam que essa lista foi sistematizada após 1900, segundo Thomas Richert (2010). Ainda mais, S. Brent Morris (1991) sustenta que o próprio Evans não teria concordado com os Landmarken de Mackey em 1923, o que coloca em dúvida a origem exata de seu próprio conjunto de princípios. De todo modo, o texto frequentemente associado ao nome de Evans apresenta uma abordagem ritualística e jurídica dos Landmarks, com ênfase no caráter esotérico da Maçonaria e na autoridade dos líderes da Ordem.

A lista atribuída a Evans difere significativamente de outras classificações contemporâneas, sobretudo por sua ênfase no rito e na disciplina interna. O primeiro Landmark, por exemplo, estabelece que os pontos essenciais da Maçonaria residem nos “pontos esotéricos do ritual” — os sinais, palavras, toques e a lenda de Hiram —, reforçando a ideia de que a identidade maçônica está profundamente enraizada na transmissão simbólica e iniciática, e não apenas em princípios éticos ou universais.

Do segundo ao quinto Landmark, Evans delineia os requisitos para a aceitação de candidatos à Maçonaria: a crença em Deus e na imortalidade da alma, o ser homem livre e de boa reputação, e a proibição de discriminações por motivos religiosos ou políticos. Estes princípios ecoam os Old Charges, mas são sistematizados com maior clareza normativa e com foco na integridade ritual e na autonomia das Lojas. Destaca-se aqui o reconhecimento do direito exclusivo da Loja de decidir sobre a admissão de candidatos, protegido contra qualquer ingerência externa — inclusive da própria Grande Loja.

A seguir, os Landmarken de Evans se voltam à autoridade e à governança interna da Loja. A votação por bola preta (Landmark 6) é definida como inviolável e secreta, garantindo o princípio da unanimidade silenciosa, tão caro à tradição maçônica. Os Landmarken 7 e 8 declaram que as decisões do Venerável Mestre são definitivas, não passíveis de apelação ou julgamento pela própria Loja — um modelo de liderança vertical e inviolável, limitado apenas pela possibilidade de julgamento em instâncias superiores, como o tribunal da Grande Loja.

O nono e último Landmark afirma o privilégio do Grão-Mestre de presidir qualquer reunião maçônica em sua jurisdição e de exercer o poder executivo durante os períodos de recesso da Grande Loja. Tal cláusula sustenta a ideia de uma autoridade central suprema, cujo papel vai além da mera representação simbólica: trata-se do garante da continuidade e da legalidade maçônica.

Embora menos difundidos do que os 25 Landmarken de Mackey, os nove de Evans — ou ao menos aqueles atribuídos a ele — refletem uma visão mais ritualista, hierárquica e regulatória da Maçonaria, com forte apego à tradição esotérica e à autoridade iniciática. Além disso, ao focar em práticas concretas — como a lenda de Hiram, os critérios de admissão, a votação secreta e a autoridade do Venerável —, Evans se distancia de um ideal abstrato de Landmarks universais para reafirmar os elementos distintivos e operacionais da vida maçônica.

Seja como for, a ambiguidade em torno da origem desses Landmarken — possivelmente formulados após 1900, e não em 1854 como sugerido — evidencia o quanto o conceito de “Landmark” é em si mesmo objeto de disputa dentro da tradição maçônica. Atribuí-los a figuras de autoridade como Evans e obter o endosso de autores como J. F. Newton mostra não apenas a tentativa de conferir legitimidade, mas também o esforço de fundamentar uma determinada interpretação do que significa ser maçom: não apenas um homem de fé e moral, mas um iniciado nos mistérios do rito e fiel à hierarquia da Ordem.

Comentários