Capitulo 6

 As 26 Landmarken da Grande Loja de Minnesota

Em 1856, a Grande Loja do Minnesota formulou um conjunto de 26 Landmarken (marcos fundamentais) que representam um dos registros mais abrangentes e normativos da Maçonaria americana do século XIX. Essas Landmarken, em sua totalidade, não apenas espelham os princípios tradicionais da Maçonaria, como também marcam uma tentativa de sistematizar as normas, deveres e direitos maçônicos sob uma lógica racional e legalista, coerente com os ideais do período.

O primeiro marco já estabelece uma base doutrinária sólida: a crença num Ser Supremo — o Grande Arquiteto do Universo — que pune o vício e recompensa a virtude é um pré-requisito inegociável para admissão à Maçonaria. Este princípio evidencia o caráter teísta e moralizante da ordem, contrapondo-se a qualquer tentativa de laicização total. O segundo marco reforça a centralidade da lei moral, ancorada em virtudes clássicas como caridade, probidade, indústria e sobriedade — alinhando-se à tradição iluminista, mas com um viés normativo.

A imutabilidade dos ritos e cerimônias (Landmark 4), incluindo a linguagem não escrita da Maçonaria do Rito de York Antigo, se estabelece como uma linha de resistência contra qualquer inovação ou reforma interna. Esse ponto se harmoniza com a afirmação de Albert Mackey, para quem a Maçonaria se define justamente pela fixidez de seus Landmarks — embora a lista de Minnesota não coincida exatamente com a de Mackey, elaborada três anos antes, em 1853.

Entre os marcos mais destacados estão os de número 5 e 6, que consolidam o princípio da fraternidade e caridade, condenando disputas entre irmãos e atribuindo à assistência mútua o estatuto de direito e dever. O marco 7 complementa essa lógica ao tratar do ensino maçônico como direito recíproco, o que ecoa a ideia de que a transmissão iniciática é tão fundamental quanto a filiação.

A visita maçônica (Landmark 8) é vista como um direito inato, mesmo que futuramente tenha sofrido modulações, exigindo consenso da Loja receptora — alteração esta que reflete os ajustes éticos e práticos da Maçonaria no século XX. Já o marco 9 trata das condições físicas e sociais para admissão, com ênfase na maturidade, liberdade de nascimento e integridade corporal, ainda que, após 1900, o critério de deficiência tenha sido relativizado, permitindo acesso a candidatos com limitações físicas, desde que autorizados pelo Grão-Mestre.

O Landmark 10 aborda o poder do Grão-Mestre de fazer Maçons "à vista", um dos poderes mais debatidos nas jurisdições norte-americanas. Já os marcos 11 e 12 impõem a obrigatoriedade de filiação e submissão à disciplina maçônica, mesmo fora de uma Loja.

Os Landmarks 13 a 16 regulam a estrutura de governança maçônica, incluindo o papel inalienável dos representantes das Lojas na Grande Loja, as exigências para eleição do Venerável Mestre (precisando ser Mestre Maçom e ter servido como Vigilante) e a autoridade irrecorrível do Mestre dentro da Loja.

Há também uma forte defesa da ortodoxia maçônica e da exclusividade jurisdicional (Landmarks 17 a 22), especialmente quanto ao rompimento de relações com maçons clandestinos, à impossibilidade de recurso contra o Grão-Mestre e à necessidade de representação das Lojas na Grande Loja — o que reflete um modelo corporativo e hierárquico.

Os Landmarks finais consolidam a estrutura organizacional: eleição anual do Grão-Mestre (23), reuniões anuais da Grande Loja (24), exigência de que todos os oficiais sejam Mestres Maçons (25), e, por fim, a proibição explícita de discussões político-partidárias ou religiosas (26) — resgatando o espírito do Old Charges de 1723, segundo o qual a Maçonaria deveria manter-se neutra nas questões mais divisivas da sociedade.

Assim, a codificação de 1856 da Grande Loja de Minnesota serve como testemunho da busca por um arcabouço normativo sólido e coerente, tanto como forma de defesa contra a fragmentação interna quanto como garantia da perenidade dos princípios maçônicos frente às transformações sociais, políticas e religiosas do século XIX. Em diálogo, mas não em total convergência com as Landmarken de Mackey, esse conjunto articula fidelidade à tradição com uma gestão jurídica moderna da Ordem.

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